quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Organize suas compras coletivas


Luiz Cláudio Foly não resiste a uma boa promoção. Desde que conheceu o site de compras coletivas Peixe Urbano, em meados do ano passado, o gerente de TI e morador de Fortaleza já adquiriu 160 cupons, um a cada 2,6 dias.

Na lista de Foly estão vouchers para restaurantes, passeios turísticos e até uma troca de óleo do carro. Apesar de economizar quase 7 mil reais nas compras, o grande número de cupons acabou se transformando em um problema. Para não perder os prazos de validade, Foly foi obrigado a montar um esquema de administração que incluía cadastrar cada um deles no Google Agenda. Foi um trabalho penoso até o dia em que conheceu o OrganizAí, um serviço de administração de cupons. Hoje, os vouchers de Foly são cadastrados automaticamente toda vez que arremata uma oferta em um site de compras coletivas. Ele é avisado por e-mail sempre que o prazo de validade está próximo do vencimento. O Organizai é um dos três serviços que surgiram nos últimos meses para ajudar a organizar a vida dos viciados em compras coletivas. “Coloquei todos os meus cupons em um só lugar”, disse Foly. “Agora não me preocupo mais em perder dinheiro.”
O OrganizAí surgiu a partir de uma necessidade que parece comum aos fanáticos por sites como o Peixe Urbano e o Groupon. Sócio-fundador da Dito, uma empresa de desenvolvimento de aplicativos sociais, André Fonseca vivia uma situação parecida com a de Foly: estava sempre preocupado com o prazo de validade de seus cupons. Para organizá-los, apelava para uma planilha Excel. Cansado de ter de cadastrar um a um os vouchers, pensou em um serviço de alerta que avisasse sobre a proximidade do vencimento. Depois de mais de dois meses e 70 mil reais de investimento, o OrganizAí foi ao ar em dezembro de 2010. Hoje, o site tem mais de 50 mil usuários cadastrados. O serviço básico de alertas é gratuito. Quem quiser mais conforto paga uma mensalidade de 4,90 reais (veja quadro abaixo). A assinatura oferece integração automática com alguns dos principais sites de compras coletivas. Assim, torna-se desnecessário cadastrar cada cupom manualmente, uma ajuda e tanto para muita gente. “A pessoa com mais cupons cadastrados no nosso OrganizAí tem quase 300 e é bastante alto o número de gente com mais de 50 cupons ativos”, diz Fonseca.
Mercado paralelo
A febre das compras coletivas chegou ao Brasil em março de 2010, com o lançamento do Peixe Urbano. Fundado por três amigos que tropicalizaram o bem-sucedido modelo do americano Groupon, o serviço deu seus primeiros passos no Rio de Janeiro, mas logo se expandiu para São Paulo e outras 100 cidades. Hoje, o Peixe Urbano tem cerca de 11 milhões de clientes em todo o país. O crescimento vertiginoso despertou a atenção de concorrentes. Em pouco tempo, o próprio Groupon desembarcou no Brasil e hoje existem 1 800 sites de compras coletivas ativos no país. A cada minuto são vendidos 35 cupons, ou 1,5 milhão de unidades ao mês. Estima-se que o mercado de compras coletivas deva movimentar em torno de 1 bilhão de reais até o final do ano. A maior parte das compras é feita por impulso, quando um e-mail com uma oferta tentadora chega à caixa de entrada dos consumidores. Isso ajuda a explicar por que até 20% dos cupons não são utilizados. “A impressão é de que o consumidor exagera nas compras”, afirma Gastão Mattos, da consultoria Gmattos, especializada em comércio eletrônico. “Isso criou a possibilidade de um mercado paralelo de revenda de promoções.”
Um dos sites que surgiram para explorar esse mercado é o Regrupe. Fundado em março de 2011 por Antônio Miranda, ex-diretor de inteligência do Groupon no Brasil, o serviço permite que seus usuários comercializem por um preço menor os vouchers que não vão conseguir usar. Um exemplo: você comprou um jantar romântico, mas o namoro acabou. Para não perder o dinheiro, basta cadastrar a oferta no Regrupe e torcer para que alguém se interesse. Os descontos variam de acordo com a data de validade. Se faltam duas semanas para vencer o prazo, o desconto em relação ao preço original é menor. Mas se o cupom precisa ser usado na mesma noite, o valor cai, e muito. É possível comprar produtos e serviços com até 95% de desconto. “O serviço é muito importante na cadeia de compras coletivas”, diz Miranda. “Ele faz com que o site de venda ofereça uma alternativa ao usuário e evita que o estabelecimento perca aquela fonte de divulgação.”
Lucinéia da Silva, 41 anos, conheceu o Regrupe por meio do portal de compras coletivas ApontaOfertas, onde o site está hospedado. Ela tinha em mãos o voucher de um jantar que não poderia usar e que venceria em 15 dias. Para não perder o investimento, resolveu experimentar o serviço. “Em três ou quatro dias recebi a confirmação de que havia sido vendido”, afirma Lucinéia. “Pelo menos não perdi o dinheiro todo.”
Assim como acontece com a maioria das novas ondas da internet que chegam ao Brasil, a ideia de organizar e reaproveitar cupons foi importada dos Estados Unidos. A primeira empresa a perceber que havia um mercado de cupons foi a Lifesta. Fundada em meados de 2009 por Eran Davidov e Yael Gavish, que na época trabalhavam na Sun Microsystems, a empresa é uma espécie de eBay dos cupons. A ideia surgiu, é claro, de uma promoção perdida. Yael recebia uma amiga em Nova York e a convidou para almoçar num restaurante usando um cupom do Groupon. Quando chegou ao endereço, o estabelecimento estava fechado para reformas. Sem dinheiro, as amigas ficaram sem comer. Da experiência ruim surgiu uma boa ideia. A Lifesta logo ganhou concorrentes. Alguns meses depois, em meados de 2010, foram lançados o DealsGoRound e o CoupRecoup. Hoje, as empresas disputam um mercado que, acredita-se, movimente até 400 milhões de dólares nos Estados Unidos.
Como a ideia de um serviço que administra e revende cupons ainda é muito recente, as empresas estão tateando para chegar ao melhor modelo de negócio. O ReCupom, por exemplo, se apresenta como uma mistura do OrganizAí e do Regrupe. O site foi fundado pelos cariocas Erwin Julius e Waldecir Santos em dezembro de 2010 e ataca em duas frentes: a organização de cupons e a revenda entre os usuários. A parte de organização e de envio de alertas também conta com integração automática com os principais sites de compras coletivas. O usuário recebe por e-mail um aviso 15 dias antes de vencer a data de validade de seu cupom. Caso perceba que não poderá utilizar, pode repassar a oferta para outra pessoa. Os consumidores não pagam para hospedar os vouchers ou revendê-los. “Queremos fazer uma parceria com os sites de compras coletivas para ser uma alternativa para os usuários que não podem usar suas ofertas”, diz Julius. “A ideia é ajudar o consumidor a não perder dinheiro.”

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